ATA DA DÉCIMA TERCEIRA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 16.05.1989.

 


Aos dezesseis dias do mês de maio do ano de mil novecentos e oitenta e nove reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima Terceira Sessão Solene da Primeira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada a comemorar a passagem do quadragésimo primeiro aniversário da Proclamação da Independência do Estado de Israel. Às dezessete horas e cinco minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e solicitou aos Líderes de Bancada que conduzissem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Sr. Itzhak Sarfaty, Embaixador do Estado de Israel no Brasil; Ver. Clóvis Brum, Líder do PMDB na Casa, representando, neste ato, o Sr. Governador do Estado; Dr. José Carlos Mello D’Ávilla, representando o Sr. Prefeito Municipal; Dr. Samuel Burd, Presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul e Vice-Presidente da Confederação Israelita do Brasil; Dr. Israel Lapchik, Presidente do Conselho das Entidades Judaicas do Rio Grande do Sul; Srª. Mina Alkalai, Presidente da Entidade Feminina Pioneira da Comunidade Judaica no Rio Grande do Sul; Ver. Adroaldo Correa, 3º Secretário da Casa. A seguir, o Sr. Presidente fez pronunciamento enfatizando a importância do Estado de Israel e salientando contar esta Casa com a presença de três edis de origem judaica. Ainda, convidou os presentes a ouvirem, de pé, a execução dos Hinos Nacionais do Brasil e de Israel e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Artur Zanella, em nome da Bancada do PFL, destacou ser a presente solenidade já tradicional na Casa. Lembrou a importância do nome de Osvaldo Aranha no processo de independência de Israel. Dizendo já ter conseguido concretizar seu sonho de conhecer Israel, discorreu sobre o país, seus limites geográficos, seu desenvolvimento e a vida em comum, alcançada no mesmo, de raças diferentes que há milênios foram separadas. O Ver. Flávio Koutzii, em nome da Bancada do PT, esclareceu divergências ideológicas existentes entre seu Partido e a atual situação de Israel. Destacou que o PT é favorável à existência do Estado de Israel, mas também espera que os palestinos alcancem seu objetivo de liberdade. Augurou pela possibilidade de um entendimento para a constituição de uma nova sociedade no Oriente Médio, de paz para todos os povos. A seguir, o Sr. Presidente registrou a presença, na Casa, do ex-Vereador Jorge Goularte. O Ver. João Dib, em nome das Bancadas do PDS e do PSB, relatou o processo de independência do Estado de Israel. Abordou e discorreu sobre a posição e o desempenho da mulher naquele Estado, ressaltando sua presença efetiva no trabalho, na defesa do país, na luta política e na vida cultural israelense. O Ver. Clóvis Brum, em nome da Bancada do PMDB, comentou a busca constante do povo judeu pela terra. Citou as qualidades do povo judaico e suas contribuições para o mundo, salientando sua participação no desenvolvimento brasileiro. Lembrou o genocídio dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Ressaltou a atuação do gaúcho Osvaldo Aranha na criação do Estado de Israel. O Ver. Isaac Ainhorn, em nome das Bancadas do PDT, PL e PTB e como proponente da Sessão, analisou a situação geográfica e o avanço tecnológico do Estado de Israel, destacando ter o mesmo nascido com o apoio da comunidade internacional. Ressaltou que o Estado de Israel vive em guerra permanente, criticando a atuação da OLP. Discorreu sobre a organização política, social e cultural do Estado de Israel, propugnando por um maior intercâmbio entre o Brasil e aquele país. Solicitou a revogação, pelo Governo Brasileiro, da atribuição de racismo ao sionismo. Após, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Sr. Itzhak Sarfaty que historiou sobre a criação do Estado de Israel, dizendo que, desde o início, foram constantes as hostilidades e o belicismo dos vizinhos palestinos. Declarou que Israel apela ao povo palestino que deixe o belicismo e dialogue com o povo judeu. A seguir, o Sr. Presidente entregou lembrança da Cidade de Porto Alegre ao Embaixador de Israel, agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos às dezoito horas e trinta e três minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Valdir Fraga e secretariados pelo Ver. Adroaldo Correa. Do que eu, Adroaldo Correa, 3º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Senhores Presidente e 1º Secretário.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Valdir Fraga): Homenagear o Estado de Israel por ocasião da passagem do aniversário da Proclamação da Independência da distante, pequena, grande Nação, é um fato que se tornou habitual ao longo de muitos anos. Habitual, mas jamais despido de emoção. Esta se renova periodicamente quando recebemos, neste Plenário, integrantes da distinta comunidade israelita da nossa Cidade. Eu coloco entre parênteses no discurso, gente simples, gente operosa, Embaixador, tranqüila e gente amiga. Eu desafiava, com muito carinho e com muito respeito, no aniversário, na sexta-feira próxima passada, na Federação, duas pessoas amigas, Samuel Burd e Jaime Saltz, quando lhes dizia que não sabia, hoje, como recebê-los. Quando eu digo como recebê-los, é a todos os senhores e a todas as senhoras dessa comunidade que se tornou amiga dos porto-alegrenses, que aqui nasceu ou chegou, integrando a intimidade como as naturais e aí está, quase que invariavelmente pelos expoentes, pelos respectivos segmentos, inclusive no comércio, na indústria, nas artes, na cultura, na sociedade e na política.

E nesta Casa nós temos três companheiros, Ver. Isaac Ainhorn, Ver. Nelson Castan e Ver. Flávio Koutzii, se a memória não me ajuda, eu peço aos meus companheiros me indicarem os outros companheiros que façam parte desta grande família que se tornou nossa irmã, não só na política, na educação e nos meios de comunicações.

Enfatizando a importância que o Estado de Israel, por sua vez, produzia a Porto Alegre, para cá deslocou-se, da Capital Federal, seu próprio Embaixador no Brasil, o destacado e talentoso diplomata Dr. Itzhak Sarfaty, acontecimento que nos honra muito, a sua presença. Casa pequena, grande o coração, como V. Exª está vendo. Seja bem-vindo, Excelência, rogo-lhe a gentileza de levar ao seu povo e ao seu governo as palavras de gratidão, o respeito muito grande dos representantes da população de Porto Alegre, enriquecida culturalmente pela fraternidade da comunidade judaica aqui na nossa pequena, para mim grande, Porto Alegre.

Solicito que todos nós, em pé, ouçamos os Hinos Nacionais.

 

(São executados os Hinos Nacionais do Brasil e de Israel.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Ver. Artur Zanella, que falará em nome da Bancada do PFL.

 

O SR. ARTUR ZANELLA: (Menciona os componentes da Mesa.) O Sr. Presidente da Casa bem disse que esta é uma das solenidades que se tornaram tradicionais aqui na Câmara Municipal. Eu não tenho certeza se todos os anos se faz alguma Sessão Solene em homenagem à Independência do Brasil, mas tenho certeza de que todos os anos se faz uma homenagem à Independência de Israel. É o único país cuja independência é saudada aqui nesta Casa. E por que isto? É evidente que toda a tradição judaica ou cristã envolve e comanda as nossas vidas. Nós, como povo, como civilização, aprendemos, na sua esmagadora maioria, a haurir nossos conhecimentos de toda uma literatura, de todo um comportamento que tem a sua base no Antigo Testamento. Tem também esta Casa e esta Cidade ligações muito estreitas com o Estado de Israel moderno, e nunca será demais repetir que foi um gaúcho, Osvaldo Aranha, quem na Presidência da ONU assinou a presidiu todos os atos que geraram a Independência de Israel. Osvaldo Aranha, que teve como seguidores nesta Casa o Ver. Martim Aranha, que foi Prefeito da Cidade, e seu filho de Martim Aranha, o Martim Aranha Filho, até há poucos dias Vereador desta Casa e suplente de Vereador da minha Bancada.

Eu, para aqueles que já me ouviram falar em uma solenidade como esta, devem lembrar-se que eu sempre digo que eu aprendi geografia, aprendi a Bíblia com um único judeu que tinha na minha cidade, só tinha um, que é o Dr. Isaac Mels, então juiz na minha longínqua cidade, que é a mais longínqua de Porto Alegre, e com ele aprendi a conhecer e amar aquela civilização. Chegando a Porto Alegre, morando no Bom Fim, na Rua Miguel Tostes, também visitava, acompanhava, e vou repetir novamente para aqueles que me ouviram no ano passado, eu representaria a minha fase da família Seligmann, a dona Maria Seligmann, enfim de toda a família, mãe do Tobias e do Celso.

E tudo isto fez com que eu tivesse um sonho, porque a todos é lícito sonhar, mesmo àquele que vem lá do interior, mais sete irmãos, filho de funcionário público,  sempre tive um sonho, que era o de visitar Israel e que consegui concretizar depois de longo tempo. É esta impressão, Sr. Embaixador, que eu queria colocar no dia de hoje, por que eu acho que esta Casa sempre faz uma Sessão Solene no dia do aniversário da Independência de Israel. Porque lá naquele pequeno território, menor do que os três Municípios maiores do Rio Grande do Sul somados, Israel é menor do que os três Municípios maiores do Rio Grande do Sul, um país que, lá verifiquei, tinha em suas fronteiras, em alguns momentos, entre o mar e o final de suas fronteiras, no máximo quinze, vinte quilômetros, que tinha um corredor para chegar a Jerusalém de seis a sete quilômetros, um país ilhado, um país que foi criado já na guerra, atacado quando se queria a barreira do mar e que hoje, conforme vi pessoalmente, é um dos países mais adiantados do mundo, mais moderno, que unifica esta modernidade com Jerusalém antigo, com Massada, com os kibutz, com moshavim em que se misturam àquela população poloneses, alemães, enfim, eslavos, com os sabras e até quando lá estava ainda chegavam os negros da Etiópia, judeus também.

Então é isso que eu tenho a impressão que nós comemoramos sempre: é a possibilidade de, nessa diversidade até de língua de origem, fazer um país em quarenta anos. Tive também a satisfação de verificar os egípcios passeando em Israel, e os israelitas passeando no Egito, mostrando que é possível, desde que haja efetivamente um espírito aberto, um convívio entre as nações. E vi, na maioria dos lugares, um convívio entre os árabes que moram em Israel e a comunidade judaica, com os seus representantes, com seus deputados e nas universidades. E é esse, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Sr. Embaixador Dr. Samuel Burd, Dr. Israel Lapchik, que representam aqui a comunidade, que me parece ser o grande motivo desta comemoração e desta Sessão Solene: é nós tentarmos provar com o exemplo que é possível o desenvolvimento mesmo nas condições mais adversas e que é possível a vida em comum de raças diferentes que foram separadas por milênios de ideologias. Isto eu vi em Israel e este é o meu testemunho. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Flávio Koutzii, Líder da Bancada do PT nesta Casa.

 

O SR. FLÁVIO KOUTZII: Senhores e senhoras, nós sabemos que há uma espécie de contencioso entre o Partido dos Trabalhadores e a comunidade judaica, feito, é certo, de algumas diferenças reais de entendimentos e, muitas vezes, de mal-entendidos que a oportunidade desta homenagem permite clarificar. Em primeiro lugar, e nunca é demais reafirmar isso, o Partido dos Trabalhadores, por princípio, é contra qualquer forma de racismo e, portanto, considera qualquer forma de anti-semitismo um ataque às suas convicções político-democráticas e em nível dos direitos humanos. A segunda questão concerne ao tema da existência mesmo do Estado de Israel e é uma boa oportunidade para reafirmar, uma vez mais, que no nosso entendimento e no limite de uma questão dessa importância e dessa complexidade para ser elaborada num partido jovem e ainda desigual na consciência e no entendimento, como o nosso, é uma posição oficial e clara de que somos favoráveis à existência do Estado de Israel.

O que certamente somos obrigados a colocar nesta oportunidade, é que, independente das divergências ideológicas que são próprias de uma casa democrática, com aspectos políticos diferenciados, com projetos partidários diferenciados, é que tentamos, na nossa caminhada política que dá o sentido da nossa existência, tentamos ser aliado políticos da humanidade, das suas melhores coisas, daquilo que ela possa realizar mais plenamente: o direito à vida e a vida entendida como a vida mais plena, mais rica e mais igual possível. É nesse sentido e nesse dia de reconhecimento e homenagem que nos sentimos também obrigados a dizer que para nós e nosso Partido, além do desejo de paz e do desejo do crescimento da sociedade, do povo judeu em Israel, é preocupação nossa e é posição nossa que o mesmo possa ser alcançado pelo povo palestino hoje, também, vivendo inclusive em certos níveis situações semelhantes à trágica história que o povo judeu foi obrigado a passar em vários momentos.

Queremos, com isso, resumir a nossa posição, reconhecendo a importância e a referência desta data e augurando, aliás, com o necessário realismo - realismo que o povo judeu tem mais talvez do que nenhum pela própria vicissitude de sua história, pelos momentos, que não foram poucos, que foi perseguido e massacrado -, pelo entendimento de uma nova sociedade, de uma nova situação no Oriente Médio, que ilumine os caminhos que temos pela frente, construa a paz, construa a igualdade e solucione a questão de todos os povos daquela área. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. João Dib, pelo PDS e pelo PSB.

 

O SR. JOÃO DIB: Senhoras e senhores, fizemos uso da palavra no Dia Internacional da Mulher e no Dia das Mães que comemoramos quinta-feira que passou, e onde está a Dona Mina, estava a minha mãe, Dona Júlia, na quinta-feira. Hoje, representando o meu Partido, o PDS, e o PSB, que é liderado nesta Casa pelo Ver. Omar Ferri, falo na Independência do Estado de Israel, ocorrida em 14 de maio de 1948, proclamada por Davi Ben Gurion e sustentada pelo nosso conterrâneo gaúcho, o eminente Embaixador Osvaldo Aranha.

Falar sobre a capital de Israel, Jerusalém, é cair no lugar comum. Há tanto que se falar, inclusive com a música “Jerusalém de ouro”, de autoria de Naomi Shemer. Falar do povo, tão simpático, trabalhador e inteligente, que tantas alegrias tem dado ao mundo em grandes descobertas científicas? Falar das cidades históricas ou das cidades modernas, dos kibutzim, do Mar Morto, do clima, etc.?

Tudo isso se tem comentado bastante, mas há algo que desde a Declaração da Independência já está implícito: Israel manterá completa igualdade de direitos sociais e políticos para todos os cidadãos, sem distinção de religião, raça ou sexo, incorporando, assim, nos princípios básicos do País, a idéia de igualdade de participação das mulheres em todas as esferas da vida.

Desde os primeiros momentos, a mulher israelense tem sido a figura central desse importante processo de mudança social. Desde o início, as mulheres lutaram para poder compartilhar igualmente todo o tipo de trabalho que os homens faziam, incluindo os trabalhos físicos - construção e lavoura - e de defesa.

Em Israel há mais de dois milhões de mulheres. Elas refletem a diversidade do mosaico humano que é o país. Aproximadamente 7% das mulheres israelenses vivem nas comunidades cooperativas rurais do país - kibutz e moshav -, que são a manifestação do ideal dos primeiros pioneiros de retornar ao país para trabalhar a terra no quadro de sua estrutura social produtiva e igualitária.

As mulheres totalizam cerca de 38% da força total de trabalho. A participação feminina varia segundo a idade, a educação, a origem sociocultural e a constituição familiar.

Desde a fundação das primeiras instituições do país, no início do século, as mulheres estão envolvidas na vida política e lutam continuamente por obter maiores colocações nas listas dos partidos, que determinam suas chances de serem eleitas nos órgãos que formulam as leis.

O direito das mulheres à educação igual começa pelas creches e jardins de infância destinados às crianças entre três e quatro anos, continua com educação gratuita e obrigatória para todas as crianças entre cinco e dezessete anos e, ainda, o estudo gratuito para os jovens até os dezoito anos. A maioria das escolas é mista, embora algumas mantenham instalações separadas para meninos e meninas, por razões religiosas.

Sua população é supostamente composta por mães e crianças sadias, eis que em Israel cerca de novecentos postos médicos gratuitos se destinam principalmente às mães durante a gravidez, depois do parto e para seus filhos nos primeiros anos.

As mulheres participam plenamente da dinâmica vida cultural do país. Sua atividade, abrangendo vastas áreas dos meios de comunicação social, reflete a criatividade feminina.

A participação das mulheres na defesa do país é anterior ao estabelecimento do Estado de Israel, em 1948.

As mulheres desempenham um número cada vez maior de funções nas unidades não-combatentes do Exército, Aeronáutica e Marinha.

Às numerosas organizações femininas voluntárias, associações e grupos, contando com mais de um milhão de membros, estão confiadas as tarefas de melhorar a qualidade de vida de Israel e, de uma maneira ou de outra, promover os direitos da mulher.

Isto é Israel através da mulher e, como ainda estamos perto do Dia das Mães, devemos sempre pensar nessa pessoa.

Israel lembra como um símbolo principal a mulher que embalou crianças, negociou com estadistas e dirigiu um país: Golda Meir -– o símbolo da ídiche mame.

E quero encerrar o meu pronunciamento como assisti na quarta-feira que passou, quando também lá estava o Dr. Samuel Burd. Eu, filho de libaneses, quero encerrar o meu pronunciamento da mesma forma como fez o Rabino Alexandre Ned, dizendo: Salam! Shalom! Paz!

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Clóvis Brum, que fala pela sua Bancada, o PMDB, e também como Líder de sua Bancada.

 

O SR. CLÓVIS BRUM: (Menciona os componentes da Mesa.) Inicialmente, Sr. Embaixador, transmito a V. Exª que por motivo de força maior não pode comparecer a esse ato o Sr. Governador do Estado, solicitando que representássemos S. Exª nesta oportunidade.

Meus senhores, minhas senhoras, comunidade judaica, shalom. Quadragésimo primeiro aniversário da criação do Estado de Israel. Ora, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, senhores homenageados, este Estado na verdade não tem quarenta e um anos, eu diria que é uma história milenar. Dizer que estamos apenas festejando quarenta e um anos de criação do Estado de Israel seria negar a história sofrida deste povo na conquista do seu lar nacional, na conquista de seu país. É uma história que vem lá da Caldéia, de Ur, que vem lá do patriarca Abraão, quando recebe de Deus a indicação da terra prometida. Essa história, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, que justificou na sua própria história o cativeiro e sofrimento desse povo por mais de quatro séculos nas mãos do Egito. Claro, Sr. Presidente, Srs. Vereadores e senhores homenageados que lá no cativeiro aquele homem que previa os sonhos traria ao próprio Egito o grande desenvolvimento e seria o desvendamento do sonho das sete vacas gordas e das sete vacas magras que traria, sem dúvida alguma, a confiabilidade da responsabilidade de competência desse povo já em plena administração do Egito.

Mas, Sr. Presidente, esta caminhada em busca da terra prometida não ficou apenas no cativeiro do Egito. Moisés, triunfalmente, libertou seu povo, as águas do Mar Vermelho se abriram e ele finalmente conduzia o povo judeu à terra prometida. Sim, morreu sem pisar na terra, mas foi ali, no Monte Sinai, hoje devolvido ao Egito, ali que Moisés recebeu as “Tábuas da Lei”, instituição de maior vulto que a humanidade conheceu. E continuava o povo judeu em busca da terra prometida. E, ao final, chegava à terra prometida. E outros homens que não entendiam a fraternidade, o amor e a bondade e o relacionamento que quer dizer shalom expulsaram esse povo, expulsaram os judeus, espalhando-os por toda a terra.

Aqui e acolá, eu até diria, como Abraão Lincoln, esse povo formava uma floresta de carvalhos gigantescos e o furacão irreversível desses povos que não entendiam, que não viviam, que não sentiam a expressão shalom deixou reduzida essa floresta em poucos troncos, despojada de seu verdor e sem receber sombra, mas a coragem, a abnegação, o trabalho, o esforço, a competência, o amor desse povo aos poucos foi dando ao mundo a sua contribuição na ciência, na indústria, na cultura, no comércio, na administração pública. E aí, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, desenvolvia-se a comunidade judaica espalhada por todo o mundo.

Quando essa comunidade, Sr. Presidente, estava no esplendor da sua contribuição à humanidade, quando essa comunidade melhor dava a sua contribuição, começavam a descer nuvens turvas e banhava-se de sangue a velha Europa, e com sangue inocente, sangue que marcou o holocausto da comunidade judaica, sangue que assassinou, acima de tudo, o maior exemplo do sofrimento de um povo praticado pela sanha de um assassino nazista que eliminou mais de seis milhões de judeus inocentes.

Mas, Sr. Presidente, este povo quase exterminado, dispersado, vivendo aqui e acolá, separado dos seus parentes, em cada carta, em cada mensagem, em cada café, em cada almoço, em cada janta, em cada oração, meu caro Jayme Saltz, não esquecia do Leshaná habáa Bi-Yrushalaim, “até o ano que vem em Jerusalém”. Mas esta frase não era uma frase solta, era uma frase que tinha uma força mística, uma força moral que encorajava a todos, homens e mulheres, jovens e velhos que estavam desejosos de ver e sentir o seu lar nacional. E, neste sentido, a célebre Declaração Belfort contribui decisivamente para que a luta do povo judeu a cada dia se consagrasse e se enraizasse no coração de todo o mundo.

Finalmente, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, chega o não distante ano de 1948, quando se propunha a instalação do Estado de Israel, na ONU, e lá o gaúcho de Alegrete, Osvaldo Aranha, falava pelo Brasil, e eu diria falava pelo mundo, oficializando com seu voto incisivo a criação do Estado de Israel. Não demoraram muitos anos para que esse povo transformasse as ruínas em universidades, os campos, as áreas áridas, os desertos áridos em campos férteis, formando e transformando os kibutz. Ora, Sr. Presidente, este é um povo que fez a sua história milenar. E eu diria mais, aqui, muitos dos presentes, sofreram na carne a angústia dos momentos de 1945. Mas, esses que estão aqui, incluindo esses, quando subiram para o palco da existência humana, o Estado de Israel já vinha, ele já existia, não existia no mundo oficial, não existia no papel, não existia na concordância de muitos povos, mas ele existia impregnado no coração de cada judeu, estivesse onde estivesse.

Por isso, o PMDB homenageia o quadragésimo primeiro aniversário da criação do Estado de Israel, entendendo que a Câmara de Porto Alegre, anualmente, realiza este ato. E agora, Ver. Isaac Ainhorn, palavra de V. Exª, a oportunidade para que a Casa possa homenagear a comunidade judaica, comunidade sempre presente nas nossas atividades, no nosso dia-a-dia, nas nossas alegrias, nas nossas tristezas, comunidade sempre presente nas horas boas e nas horas tristes, sim, nas horas de dificuldades do nosso País, porque essa comunidade fez do Brasil também o seu lar nacional, também o seu país.

Concluímos, Sr. Presidente, transmitindo em nome do PMDB a saudação nesta oportunidade e desejando, sinceramente, que possamos vê-los novamente o ano que vem e em muitas outras oportunidades. Até o ano que vem, em Jerusalém. Sou grato. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Isaac Ainhorn, autor da proposição, fala pelas Bancadas do seu Partido, PDT, pelo PL e o PTB.

 

O SR. ISAAC AINHORN: (Menciona os componentes da Mesa.) Há poucos minutos, dois oradores que me antecederam colocaram exatamente um fato que é concreto, que é bem anterior até a presença deste Vereador nesta Casa para que se faça, sobretudo, justiça e verdade aos fatos. A Câmara Municipal de Porto Alegre tem uma tradição já incorporada à sua história de prestar homenagem à Independência do Estado de Israel, assim o referiu o Ver. Artur Zanella, assim o referiu igualmente o Ver. Clóvis Brum, e nos indagamos exatamente por quê? Além de todas as considerações feitas, nós temos presente também que Israel nasceu sob a simpatia internacional e o apoio da comunidade internacional para a sua existência. Por incrível que pareça, passados estes quarenta e um anos, necessita permanentemente do apoio da comunidade internacional. É por isto, talvez, a resposta desta tradição que se incorporou à história desta Casa, no sentido de anualmente prestar homenagem ao Estado de Israel. (Lê.)

“Israel completa quarenta e um anos de independência, relativamente nova a criação de seu Estado se compararmos com outras nações, mas muito antiga se ponderarmos a sua história que chega, pelo calendário judaico, ao ano de 5.749. Mas se o seu passado se confunde com os albores do mundo, seu presente nestes quarenta e um anos é uma realidade, um milagre autêntico onde o deserto se transformou em verde, onde um território de apenas 22.287km² supera, graças à tecnologia, graças à obstinação e luta do seu povo a grandes países.

Trabalho, perseverança, dignidade, eis a tríade que hoje se torna o marco de Israel. Contudo, acima destes três importantes fatores não se pode esquecer o maior deles, o mais relevante, o mais atual: a constante luta. Israel é desde a sua independência um país em guerra. No dia seguinte à sua independência, já teve a declaração de guerra feita pelos seus vizinhos. Sua liberdade não foi ganha, foi conquistada, palmo a palmo, dia a dia, segundo a segundo. Sua independência custou o sangue de seus filhos e ainda nos dias atuais ele se derrama na diuturnação de ódio que contra ele se faz até os nossos dias fomentado, sobretudo, pela Organização da Libertação da Palestina.

A história dessa organização de um quarto de século, infelizmente, é a sua realidade uma senda de mortes, uma estrada palmilhada de cadáveres, conseqüências de uma política terrorista sem peias onde morrem judeus e não-judeus e cuja bandeira vem expressa no seu próprio estatuto, no art. 9º do pacto nacional palestino, a luta armada é a única maneira de libertar a Palestina, ou no art. 22 do mesmo pacto, que afirma que a libertação da Palestina destruirá a presença sionista no Oriente Médio. Israel de hoje ainda é uma nação tensa, sob o espectro do ódio, não obstante promessas vãs, principalmente apontadas, indicadas nas manifestações de Yasser Arafat. Mas Israel vive em estado de permanente guerra, e seu povo é constituído de guerreiros em busca da paz. Paz é a palavra mais pronunciada, mas igualmente a mais buscada, angustiantemente procurada em todo o território israelense.

Estive há pouco mais de quinze dias em Israel, posso dizer, pois, convicto, que Israel, que mostra a todo instante uma complexidade político-social, histórica e religiosa que explode em notável modernidade e uma extraordinária capacidade de organização em que coexistem com êxito os princípios da livre iniciativa, com sociedades cooperativas modernas e avançadas ao lado de estruturas coletivistas que realizam em síntese ou em paralelo um socialismo democrático voltado sempre para o bem comum de seu povo. E notável igualmente é o papel desempenhado pela religião dentro dos envolvimentos da política voltada para o povo. Em todos os setores da sociedade israelense, no direito, na vida comum, na administração se nota a presença da tradição religiosa, da fixação de princípios éticos que se reflete com amplitude no dia-a-dia da vida israelense.

São mais de três milhões de israelenses, onde o mais velho cidadão que nasceu no novo Estado tem apenas quarenta e um anos. Outros mais velhos edificaram-no, construíram-no, lutaram por ele cavando às vezes com suas próprias mãos a terra para o plantio de árvores que hoje dão seus frutos no verde em que se transformou o deserto. Dentro deste espírito, poderíamos, sobre o Estado de Israel - cuja criação hoje esta Casa homenageia e que me concedeu a honra de representá-la igualmente no período em que estive no Estado de Israel -, aqui citar a palavra do Profeta Daniel: ‘Tu, porém, vai até o fim porque repousarás e te levantarás na tua sorte’.

Quero ainda fazer alguns registros importantes sobre o moderno Estado de Israel. Uma previdência social que abrange com eficiência e zelo mais de três quartos da população com seguro saúde e serviço médico integral, através de uma rede nacional de clínicas, hospitais, laboratórios, centros de Raio X e locais de convalescença e repouso, atendendo inclusive as populações árabes. A Kupat Holim oferece atenção médica completa e diversificada durante toda a vida de seus associados. Todos pertencem praticamente à Confederação Geral dos Trabalhadores de Israel, Histradut; os associados desta estão automaticamente segurados na Kupat Holim; uma hospitalização sem custo, uma atenção terna e, acima de tudo, com respeito que se deve ao bem mais caro de todos: a vida.

Na Confederação Geral do Trabalho de Israel repousa o cerne, a via própria do socialismo daquele país. Não se hostiliza a iniciativa privada; com ela se convive, com ela se concorre, com competência e capacidade. São um milhão e seiscentos mil filiados, existem filiados de todas as tendências políticas. Uma empresa cooperativa do transporte coletivo igual a Egged é de causar inveja. Ela não é nenhuma iniciativa privada e tampouco é uma empresa estatal. Ela pertence aos quatro mil motoristas que operam nesta empresa, seus sócios são por sua vez trabalhadores da própria empresa. Um serviço excelente ao lado de proporcionar a seus trabalhadores uma boa ocupação é o objetivo maior da empresa. E faço este registro exatamente porque em nosso País a questão do transporte urbano é uma questão muito presente e tive a oportunidade, nesse período em que lá estive, de observar um funcionalismo que atende plenamente às necessidades daquele Estado com cerca de oito mil coletivos transitando naquele país.

Esse é o Israel que eu vi; esse é o Israel que senti pulsar, de vida, de pujança econômica, de trabalho contínuo e de vigilância ímpar: um Israel ávido de notícias, com uma rede de quinze jornais modernos e sistemas de cadeia de rádio e televisão. Israel é sui generis por sua condição histórica e peculiar no centenário do mundo. Não quero, nem farei comparações com o nosso Brasil, mesmo sendo judeu; somos igualmente uma nação peculiar, com os nossos defeitos e virtudes, com a nossa política mal ou bem traçando o caminho irreversível da democracia. Ressalto, portanto, que a troca de experiência, o intercâmbio cultural e o conhecimento recíproco entre Brasil e Israel é fonte de inspiração para o encontro de soluções de muitos problemas, de um lado e de outro.

O que desejo fixar, registrar, deixar nos Anais desta Casa é o Israel que eu vi, é o Israel que senti. Um país onde o crime de suborno e corrupção é inafiançável e onde inexiste a impunidade nos crimes dessa espécie e onde a palavra corrupção é odiada. ‘A corrupção’ - me afirmou um israelense – ‘é o maior fator da destruição de um povo, de um país, de uma nação. Ela mina as atividades vitais, ela destrói os princípios mais ínfimos da dignidade humana’. Esse é o Israel que eu vi: sobranceiro, tenso, guerreiro, mas acreditando, com fé inabalável, nos destinos de um mundo cheio de paz, na fraternidade universal. O Israel que eu vi, Sr. Presidente, minhas senhoras e meus senhores, tem problemas, sim, Ver. Jorge Goularte, ao lado de tantos outros Vereadores aqui que, nesta tradição, foram requerentes de Sessões Solenes na Câmara Municipal: Ver. Jorge Goularte, Ver. Vicente Dutra, Ver. Valdir Fraga, Presidente desta Casa, Ver. Clóvis Brum, Ver. Elói Guimarães, Ver. Artur Zanella. O Israel que eu vi, Ver. Dilamar Machado, tem problemas, sofre angústias à semelhança de qualquer nação moderna, o Israel que senti é vivo, audaz, corajoso, dono de desenvolvimento tecnológico elogiado em todo o mundo, com políticos e dirigentes buscando manter o nível de seu povo e o bem-estar de uma nação.

No Israel que estive, a convite oficial do Partido Trabalhista Israelense, representando esta Casa, todos sabem que a soberania não se ganha de graça, mas se conquista e se mantém com dignidade quando não se curva seu governo e seu povo diante de ameaças e se procura, minuto a minuto, resguardá-lo com altivez, mas, sobretudo, com um preito ao seu passado de lutas e glórias, onde o sentimento de nacionalidade e sobrevivência faz com que correntes de pensamentos antagônicos e de concepção de mundo diversas superem suas divergências e se constituam num governo de coalizão nacional.

E foi embasado no princípio da conquista pelo trabalho, tão defendido pelos teóricos do sionismo e do socialismo, que o Estado que agora completa quarenta e um anos realizou seu progresso e traçou, indelevelmente, os pilares da civilização que hoje ele é, uma civilização digna de se ver, mas não tão simples de compreender. Apesar de ser uma nação moderna e poderosa e o volume de exportações do seu diminuto país atingir os mais altos do mundo, continua registrando um dado inquietante: ocupa, infelizmente, o primeiro lugar em gastos militares. Mas, reafirmo, nos meus contatos, nas minhas entrevistas, nas exposições a mim feitas - e foram muitas, Sr. Presidente -, sempre ficou nítida, clara, cristalina a vontade de paz do povo israelense, paz ansiada, mas difícil, entendendo uns estar longe uma negociação com a Jordânia dentro de uma conferência internacional, outros entendendo que o país possa participar de um encontro em nível amplo, mas com garantia de que as regras do jogo não sejam mudadas no meio dele.

Num dos últimos e mais recentes pronunciamentos, o Sr. Arafat disse que o pacto palestino está caduco, mas não explicita onde reside a caducidade desse pacto. Num jogo dúbio, meias verdades ou verdades uma perna só, o Sr. Arafat esqueceu de afirmar que a derrogação desse pacto só é possível através de uma conferência da OLP, o que não houve até agora, e que, no dia seguinte, as manifestações do Sr. Arafat foram contestadas por outros dirigentes da Organização da Libertação da Palestina. E há fatos que surpreendem e espantam na curta história do Estado de Israel. A Europa tem sido a grande vítima do terrorismo da OLP, os atos ainda estão presentes na memória de todos, as feridas não se encontram cicatrizadas e as famílias choram as perdas de seus entes queridos. E pasmem: os mesmo governos que foram vítimas da ação terrorista do Sr. Arafat e seus adeptos, hoje o recebem. Como há pouco mais de cinqüenta anos países que sofreram na Segunda Guerra Mundial pouco antes negociavam e acalentavam uma política de aproximação com a Alemanha de Hitler. É surpreendente.

Complexa, tensa e grave, assim pode ser definida a atual situação da chamada Questão Palestina, concretizada nas manifestações hoje bem dirigidas de fora para dentro nos territórios administrados por Israel, mas não de impossível solução no dizer de vários políticos israelenses com quem mantive conversações, contrariando os defensores do maniqueísmo: território sem paz ou paz sem território.

Com uma certeza, porém, deixei Israel. Este Estado de quarenta e um anos não abrirá mão, por tudo que representa para a comunidade judaica, das Colinas de Golan, por razões da sua própria sobrevivência. Para sobreviver, ali, cada um dos habitantes é um soldado: rapazes servem três anos à pátria e as moças dois anos e ao término do serviço lembram o marcante episódio de Massada, quando no alto daquela montanha um grupo de trezentas famílias de Israel se refugiou para fugir do jugo romano. Depois de mais de três anos sitiados, quando viram que seriam vencidos, praticaram o suicídio coletivo, pois a morte é preferível à escravidão e até hoje a morte de homens, mulheres e crianças é prova de que a liberdade é maior do que a própria vida, pois hoje, quando deixam o serviço militar, os israelenses pronunciam a frase que lembra que a liberdade está acima da própria vida. Ao pronunciar a frase, que é um lema, uma promessa: ‘Massada nunca mais!’.

No atual estado de coisas, Israel traça seu caminho histórico. Embora com apenas quarenta e um anos, o Estado já enfrentou duas guerras e vive sob a constante ameaça do terrorismo e ameaças de guerra. Saiu vitorioso e dele se poderia dizer, como afirmou a declaração do Governo soviético, publicada no ‘Pravda’, em sua edição de 02 de setembro de 1964, depois do conflito com a China comunista: ‘Um povo que é atacado, se defende, sai vitorioso, tem o dever de criar uma situação política que o torne seguro contra a fonte de agressão e tem o direito de manter esta situação enquanto continuar existindo o perigo de agressão’. A declaração se adapta perfeitamente ao Israel moderno.

Mas, o progresso, o bem-estar da nação israelense não esconde, porém, as nuvens negras que rodeiam não só aquele Estado, mas todo o mundo, no que representa o neonazismo, o ressurgimento, Sr. Presidente, do anti-semitismo. Parece que o mundo está, mais uma vez, enlouquecido, quando em nosso próprio País até desfile com bandeiras e fardamentos com suásticas ocorrem e onde até um Prefeito coloca em seu gabinete o retrato de Adolf Hitler. Um acinte ao nosso povo, Sr. Presidente, representantes da Força Expedicionária Brasileira, que aqui se encontram, cujos soldados da FEB derramaram o seu sangue em solo europeu na luta pela liberdade e democracia.

E o mais grave é que se folhearmos poucas páginas da história vamos ver a mesma visão, a diáspora, a destruição do templo, a inquisição, as fugas e as perseguições na Europa Oriental o provam. Sempre revestido com pele de cordeiro, tudo com um nome, uma filosofia, uma espécie de mentira forjada e aceita pela maioria do mundo. Agora, o anti-semitismo se pinta em guerra ao sionismo. E neste sionismo é que também se escondem as mais variadas vertentes do neonazismo. E nem os velhos exemplos da história e nem os mais recentes conseguem aplacar o ódio racial do ressurgimento do nazismo. Nem mesmo o exemplo edificante do Primeiro-Ministro Mário Soares, que ao lembrar os quinhentos anos da expulsão dos judeus de Portugal, pediu perdão ao povo judeu. Nada disso, infelizmente, abala a convicção fascista de muitos.”

Reitero, pois, aqui, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, minhas senhoras e meus senhores, que o Governo Brasileiro que for ungido nas urnas em novembro próximo, pelo voto soberano de seu povo, revogue a estúpida decisão do Governo Brasileiro, na ONU, de considerar o sionismo como forma de racismo. Reafirmando minhas saudações na homenagem que esta Casa presta à Independência de Israel, feita com luta, com sangue e perseverança, quero lembrar mais uma vez que este País tem acendrado amor ao seu passado. Em Israel, quase tudo está ligado ao seu passado milenar e nunca é demais lembrar as palavras do Poeta Carlos Drumonnd de Andrade, ao salientar a devoção que se deve ter no passado: “As ruínas só palpitam se renunciamos à ironia diante das coisas pretéritas”. E podemos afirmar, ao fim, que Israel jamais ironizou seu passado, mas, ao contrário, mantém por ele quase uma idolatraria. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Sr. Itzhak Sarfaty, Embaixador de Israel no Brasil.

 

O SR. ITZHAK SARFATY: (Menciona os componentes da Mesa.) Há vinte e nove de novembro de 1947, quando da votação na Assembléia Geral das Nações Unidas, presidida pelo gaúcho Osvaldo Aranha, que conduziu a proclamação da Independência de Israel, era difícil prever o desenvolvimento dos acontecimentos. Porém, menos de seis meses mais tarde, a 14 de maio de 1946, quando David Ben-Gurion proclamava a criação do Estado de Israel, já se sabia que os Estados árabes não se conformavam com a restauração da soberania do povo judeu na terra de seus ancestrais e que a luta seria dura e longa. As escaramuças e os atentados que marcaram esses seis meses transformaram-se em guerra aberta no dia seguinte à Proclamação da Independência.

O recém-nascido Estado de Israel, com seiscentos mil habitantes judeus, teve de enfrentar os exércitos numerosos, treinados e bem equipados de, praticamente, todos os países árabes independentes da época.

Não pretendo relatar aquelas páginas gloriosas, mas penosas do primeiro ano da existência de Israel. Saímos da guerra sangrentos, mas respirando o ar de Jerusalém e da liberdade. Muitos em Israel e no mundo inteiro esperavam que os armistícios firmados em 1949 se tornassem tratados de paz. Infelizmente, estas expectativas otimistas não se concretizaram. Por várias vezes consecutivas, tivemos que recorrer às armas para nos defendermos do belicismo e da hostilidade de nossos vizinhos. Tivemos que pagar um pesado tributo de sangue e de lágrimas, mas o sangue e as lágrimas enlutaram também o campo de nossas adversários. Há dez anos atrás, o dirigente do maior e mais importante país árabe, o Egito, chegava à conclusão de que o diálogo deveria substituir o estrondo dos canhões e das bombas. O primeiro tratado de paz entre Israel e um país árabe era celebrado. Passaram outros dez anos, estamos comemorando o quadragésimo primeiro aniversário da independência de Israel tal como no ato da Proclamação da Independência. Israel volta a lançar um apelo aos países árabes para que eles abandonem o caminho da violência, da hostilidade, das guerras em favor do diálogo pacífico.

Estamos enfrentando momentos difíceis na opinião pública mundial. É quase uma tarefa impossível explicar aos telespectadores e aos leitores de jornais do mundo inteiro que o soldado israelense, que não é dominador, que reluta em lutar contra civis, está, ao enfrentar adolescentes que o agridem com pedras, na verdade, se defendendo contra o imponente poderio militar e econômico do mundo árabe.

O âmago do conflito árabe-israelense continua sendo a recusa dos países árabes, com exceção do Egito, em admitir a existência de Israel numa região da qual eles pretendem serem os únicos donos. A luta não é entre o adolescente palestino armado de estilingues e uma impressionante máquina de guerra israelense, mas entre nossos vizinhos belicosos que continuam montando um arsenal sofisticado como nunca antes se viu e o adolescente israelense fardado forçado por força das circunstâncias, cuja vida, a vida dos seus pais e irmãos está constantemente ameaçada. Pergunto: contra quem a Síria, a Arábia Saudita, o Iraque e a Líbia precisam de tantas armas?

Esta é a simples verdade que as lentes das câmeras de televisão deturpam ao focalizarem os acontecimentos da intifada. Ainda que o quisessem, não poderiam mostrar uma realidade multidimensional que vai muito além das lutas de pedras nas ruas da Cisjordânia.

Em quarenta e um anos de luta incessante, Israel conseguiu erigir uma sociedade livre, democrática, voltada para o progresso. Seu mais precioso objetivo continua sendo o de viver em paz com seus vizinhos. Uma paz entre iguais, negociada com dignidade e procurando satisfazer os anseios e as aspirações de todos os parceiros. Israel nunca aceitou a nunca admitirá imposições disfarçadas em proclamações e golpes de relações públicas. Nunca fomos dominadores e nem queremos dominar, mas nunca nos conformamos com a dominação de outros. Infelizmente, temos razões demais para desconfiar da OLP e do seu líder, o Sr. Arafat. Não apenas por causa do passado, de um homem e uma organização que trouxeram ao mundo violência, atrocidades e desrespeito à vida humana, que enlutaram milhares de lares do mundo inteiro e no seu próprio seio, mas, também, porque os ouvidos bem afinados como os nossos necessariamente são, percebem muito bem a diferença entre as declarações pacíficas destinadas ao mundo externo e os discursos inflamatórios para uso interno.

O Governo israelense aprovou ontem uma nova iniciativa que procura alcançar a paz com todos os países árabes que se consideram em estado de guerra com Israel, uma solução também aceitável para Israel e para os palestinos. A iniciativa prevê duas fases: uma transitória e a segunda permanente. Durante a primeira, que não deverá ultrapassar cinco anos e que será negociada entre Israel e representantes livremente eleitos dos habitantes a Judéia, Síria e da Faixa de Gaza, com a eventual participação da Jordânia e do Egito, será instaurado um regime de autonomia nos referidos territórios.

Numa segunda fase que deverá começar a partir do terceiro ano de autonomia, será negociada uma solução permanente. Dessas negociações participarão Israel, os representantes da Judéia, Samária e Gaza. Assim como a Jordânia, o Egito poderá se juntar também às negociações cujo objetivo será de alcançar uma solução permanente e aceitável para todos os participantes, assim como a delimitação das fronteiras entre Israel e a Jordânia. Procurei dar um resumo muito rápido da nova iniciativa do Governo israelense.

Ao agradecer, sinceramente, esta honorável Câmara de Vereadores, pela feliz iniciativa de homenagear meu país por ocasião do quadragésimo primeiro aniversário do Estado de Israel, quero assegurar que Israel quer uma paz justa para si e para os árabes palestinos e continua fiel, como sempre, aos seus ideais de justiça e de convivência pacífica legados por nossos profetas e que constituem a sua base moral e política.

Minhas senhoras e meus senhores, o apoio a Israel, nesta fase crucial, constitui um investimento na paz. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Sr. Embaixador, irei fugir um pouco do protocolo, dando a palavra ao nosso amigo Samuel Burd.

Fugindo do protocolo, vou pedir ao nosso amigo para traduzir o meu português.  “Amigo”, como se diz, como se traduz em hebraico? Vamos lá.

 

O SR. SAMUEL BURD: Pode ser em português, o Sr. Embaixador conhece bem. Tu queres em hebraico? Em hebraico vai ser difícil.

 

O SR. PRESIDENTE: Amigo Embaixador, em nome da cidade de Porto Alegre, principalmente dos presentes nesta Sessão maravilhosa, tensa, mas no bom sentido, lhe ofereço uma lembrança da Cidade para V. Exª saborear um churrasco, para que V. Exª possa “churrasquear”. Acredito que hoje a noite alguém vai lhe oferecer, como bom gaúcho, um churrasco, é para o Senhor usar esta lembrança, mas com muita paz.

 

(O Sr. Presidente procede à entrega de lembrança ao Sr. Itzhak Sarfaty.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nada mais havendo a tratar, declaro encerrados os trabalhos da presente Sessão Solene. Muito obrigado.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h33min.)

 

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